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Gabriela Strinban e o Well Used: Transformando Moda e Sustentabilidade


Photos courtesy Well Used - @_wellused

No mundo da moda, onde a criatividade e a sustentabilidade se encontram, Gabriela Strinban é uma figura notável que está revolucionando a forma como vemos e usamos roupas. Aos 26 anos, Gabriela é a fundadora do Well Used, um brechó online que não se limita a oferecer roupas vintage de alta qualidade, mas também cria novas peças a partir de roupas com "defeitinhos" que seriam descartadas.



O Well Used teve seu início em 2017, quando Gabriela abriu o guarda-roupa de sua mãe e se deparou com um tesouro de roupas vintages, todas fabricadas antes dos anos 2000 e em perfeito estado. Foi o ponto de partida para uma jornada que a levou a criar o Well Used Brechó, na época em que brechós online eram raros. As primeiras 50 peças vendidas vieram diretamente do guarda-roupa de sua mãe, mas Gabriela logo se aventurou em garimpos por brechós, bazares beneficentes e feiras.



No entanto, o verdadeiro ponto de virada ocorreu em 2020, quando a febre dos brechós online começou a se espalhar. Gabriela não queria ser apenas mais um entre muitos. Sua autenticidade a impulsionou a ir além, e foi assim que ela descobriu o "rework", um processo de recriação de roupas a partir de peças já existentes, que poderiam ter pequenos defeitos, mas ainda eram de qualidade. Ela não sabia que esse método tinha um nome, mas rapidamente descobriu que era uma tendência internacional que visava reduzir o desperdício têxtil.


O Brasil produz cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis a cada ano, e apenas 20% desse material é reciclado. O restante acaba em lixões e aterros sanitários, causando sérios danos ao meio ambiente. Gabriela viu uma oportunidade de fazer a diferença e, assim, nasceu o Well Used, dedicado a criar moda de maneira sustentável.


O processo de recriação de roupas é o cerne do Well Used. Gabriela transforma roupas com pequenos "defeitos" em novas peças estilosas e únicas. Desde a primeira peça que ela criou, uma calça jeans x alfaiataria, sua criatividade floresceu. Hoje em dia, ela vê potencial em praticamente tudo o que olha, encontrando novas vidas para roupas que seriam descartadas.


Além de oferecer moda sustentável, Gabriela se esforça para conscientizar as pessoas sobre a importância do upcycling e do rework. Ela acredita que todos podem fazer sua parte para reduzir o desperdício têxtil e preservar o meio ambiente. O Well Used não é apenas um negócio, mas uma missão para Gabriela.


Confira entrevista exclusiva com Gabriela Strinban:


1. Como surgiu a ideia de criar o Well Used Brechó e como foi o início desse empreendimento?


A ideia de criar o Well Used Brechó surgiu em 2017, quando me deparei com um guarda-roupa da minha mãe repleto de peças vintages. Roupas intactas, diferentes e de uma qualidade absurda. Elas já estavam ali guardadas há mais de 20 anos. Foi super difícil para minha mãe se desapegar de tantas roupas que fizeram parte da história de vida dela. Mas consegui fazer com que ela entendesse que essas roupas precisavam de uma nova história e não poderiam ficar ali guardadas por mais 20 ou 30 anos. Então, criei a página no Instagram "Well Used Brechó" e me lembro que quase não existiam brechós online, as pessoas tinham, e por incrível que pareça, ainda têm, um preconceito com peças de segunda mão. Quando criei a página, já comecei com ideias diferentes, fotografava as roupas na rua com uma modelo, bem urbano e bem incomum para um brechó.
O início, posso dizer que foi muito tranquilo. Eu não tinha expectativas maiores e nem imaginaria que se tornaria tudo o que é hoje para mim. Por um bom tempo, vendi apenas as peças que eram da minha mãe, até começar a explorar brechós da minha cidade e até mesmo fora do Brasil, atrás de garimpos.

2. Qual foi o momento em que você percebeu que o Well Used estava se tornando mais do que apenas uma fonte de renda extra?


Sem dúvidas, quando chegou a pandemia. Eu já morava em outra cidade e era CLT, até que perdi meu emprego por conta da pandemia e precisei focar 100% no Well Used para que eu pudesse continuar me mantendo onde morava. E aí deu um hype gigante. Muitas pessoas influentes começaram a seguir e comprar. Comecei a tirar por semana muito mais do que tirava trabalhando o mês todo, várias horas por dia.


3. O processo de recriação de roupas através do rework é uma abordagem inovadora. Como você começou a explorar essa técnica e o que a motivou a adotá-la?


No meio de muitos garimpos, eu encontrava peças simplesmente incríveis que tinham alguma avaria, algum rasgo, manchas... Detalhes que eu não deixava passar na minha curadoria para venda. Então, comecei a me questionar sobre o que realmente eu poderia fazer com essas peças, para que elas não fossem ignoradas ou descartadas. Até que criei uma calça meio a meio, 50% jeans e 50% alfaiataria, e simplesmente ficou incrível! Fiquei completamente feliz com a criação, com a descoberta, com os feedbacks e isso me motivou demais. Qualquer roupa, pano, retalho que eu via na minha frente, já imaginava algo novo para ele. Demorei um tempinho para descobrir que esse trabalho já tinha um nome e já era tendência fora do Brasil. Nunca cursei moda e não tenho nenhum curso de costura, tudo que aprendi literalmente foi resultado da minha vontade e curiosidade.

4. O Upcycling e o patchwork são tendências importantes para a moda sustentável. Como você vê o papel do Well Used em relação à redução do desperdício têxtil e à conscientização ambiental?


Eu sempre digo que estou fazendo a minha parte, mas, infelizmente, hoje ela ainda é muito pequena perto do que eu quero que seja um dia. O Well Used é uma marca muito sólida, pequena e orgânica. Queremos impactar as pessoas através da moda, tirar o óbvio da cabeça delas. Você pode reusar, reutilizar, reinventar, criar novas ideias de sustentabilidade. As pessoas não imaginam que elas podem salvar o mundo e muito menos que elas podem fazer uma peça com uma cortina! O meio ambiente é nosso, vivemos nele, temos que evitar a fabricação frenética de novas roupas.


5. O Brasil enfrenta um grande desafio com o descarte inadequado de resíduos têxteis. Como você enxerga o impacto do Well Used na mitigação desse problema?


Uma das minhas metas no Well Used é elevar ainda mais o conhecimento das pessoas sobre como fazer um descarte adequado, fazer algo que de alguma forma interesse a elas a saberem cada vez mais sobre resíduos têxteis. Quero gerar conhecimento suficiente para elas sobre o que é Upcycling/rework para que o Well Used não faça apenas disso um trabalho interno.

6. Ao longo do tempo, como a sua criatividade evoluiu e influenciou as criações do Well Used? Quais são suas fontes de inspiração ao transformar peças descartadas em novas criações de moda?


Acho que o fato de eu ser uma pessoa muito autêntica e curiosa influenciou muito na evolução e criações. O fora do óbvio sempre foi muito claro pra mim, a gente pode fazer tudo, mas depende da nossa criatividade. Tenho muitas fontes de inspiração; a minha cabeça é uma fonte gigante... Tudo sai dela, ao natural. Às vezes, minha imaginação me atropela. Mas acho que algo que realmente me inspira é ver a reação das pessoas quando eu conto pra elas sobre o Well Used. Elas expressam tanta surpresa, tantas dúvidas, tantas curiosidades, e acham o máximo o processo.



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